Semana Nacional da Familia

Semana Nacional da Familia

domingo, 22 de agosto de 2010



CAMPANHA ELEITORAL
Em defesa da vida

Foi com desagradável surpresa que vi estampada minha fotografia no topo da página A7 do Estado de ontem, com a nota de que eu teria admitido que os católicos votem em candidatos que são favoráveis ao aborto. Gostaria de expressar, mais uma vez, a posição inegociável da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que é a mesma do Magistério da Igreja Católica, de defesa intransigente da dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural. O aborto é um crime que clama aos céus, um crime de lesa-humanidade. Isso, evidentemente, não significa que o peso da culpa deva recair sobre a gestante. Também ela é, na maioria das vezes, uma grande vítima dessa violência e precisa de acompanhamento médico, psicológico e espiritual. Aliás, esses cuidados deveriam vir antes de uma decisão tão dramática. Os católicos jamais poderão concordar com quaisquer programas de governo, acordos internacionais, leis ou decisões judiciais que venham a sacrificar a vida de um inocente, ainda que em nome de um suposto Estado de Direito. Aqui, vale plenamente o direito à objeção de consciência e até, se for o caso, de desobediência civil. O contexto que deu origem à nota em questão é uma reflexão que eu fazia em torno da diferença entre eleições majoritárias e proporcionais. No caso da eleição de vereadores e deputados (eleições proporcionais), o eleitor tem uma gama muito ampla para escolher. São centenas de candidatos e seria impensável votar em alguém que defenda a matança de inocentes, ainda mais com dinheiro público. No caso de eleições majoritárias (prefeitos, senadores, governadores e presidente), a escolha recai sobre alguns poucos candidatos. Às vezes, sobretudo quando há segundo turno, a escolha se dá entre apenas dois candidatos. O que fazer se os dois são favoráveis ao aborto? Uma solução é anular o próprio voto. Quais as consequências disso? O voto nulo não beneficiaria justamente aquele que não se quer eleger? É uma escolha grave, que precisa ser bem estudada e decidida com base numa visão mais ampla do programa proposto pelo candidato ou por seu partido, considerando que a vida humana não se resume a seu estágio embrionário. Na luta em defesa da vida, o problema nunca é pontual. As agressões chegam de vários setores do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e até de acordos internacionais. E chegam em vários níveis: fome, violência, drogas, miséria... São as limitações da democracia representativa. Meu candidato sempre me representa? Definitivamente, não! Às vezes, o candidato é bom, mas seu partido tem um programa que limita sua ação. Por isso, o exercício da cidadania não se pode restringir ao momento do voto. É preciso acompanhar, passo a passo, os candidatos que forem eleitos. A iniciativa da Ficha Limpa mostrou claramente que, mesmo num Congresso com tantas vozes contrárias, a força da união do povo muda o rumo das votações. Que o Senhor da Vida inspire nossos eleitores para que da decisão das urnas nas próximas eleições nasçam governos dignos do cargo que deverão assumir. E que o cerne de toda política pública seja a pessoa humana, sagrada, intocável, desde o momento em que passa a existir, no ventre de sua própria mãe.

DOM DIMAS LARA BARBOSA, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, secretário-geral da CNBB
secretariogeral@cnbb.org.br
Rio de Janeiro

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