CAMPANHA ELEITORAL
Em defesa da vida
Foi com desagradável surpresa que vi estampada minha fotografia no topo da página A7 do Estado de ontem, com a nota de que eu teria admitido que os católicos votem em candidatos que são favoráveis ao aborto. Gostaria de expressar, mais uma vez, a posição inegociável da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que é a mesma do Magistério da Igreja Católica, de defesa intransigente da dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural. O aborto é um crime que clama aos céus, um crime de lesa-humanidade. Isso, evidentemente, não significa que o peso da culpa deva recair sobre a gestante. Também ela é, na maioria das vezes, uma grande vítima dessa violência e precisa de acompanhamento médico, psicológico e espiritual. Aliás, esses cuidados deveriam vir antes de uma decisão tão dramática. Os católicos jamais poderão concordar com quaisquer programas de governo, acordos internacionais, leis ou decisões judiciais que venham a sacrificar a vida de um inocente, ainda que em nome de um suposto Estado de Direito. Aqui, vale plenamente o direito à objeção de consciência e até, se for o caso, de desobediência civil. O contexto que deu origem à nota em questão é uma reflexão que eu fazia em torno da diferença entre eleições majoritárias e proporcionais. No caso da eleição de vereadores e deputados (eleições proporcionais), o eleitor tem uma gama muito ampla para escolher. São centenas de candidatos e seria impensável votar em alguém que defenda a matança de inocentes, ainda mais com dinheiro público. No caso de eleições majoritárias (prefeitos, senadores, governadores e presidente), a escolha recai sobre alguns poucos candidatos. Às vezes, sobretudo quando há segundo turno, a escolha se dá entre apenas dois candidatos. O que fazer se os dois são favoráveis ao aborto? Uma solução é anular o próprio voto. Quais as consequências disso? O voto nulo não beneficiaria justamente aquele que não se quer eleger? É uma escolha grave, que precisa ser bem estudada e decidida com base numa visão mais ampla do programa proposto pelo candidato ou por seu partido, considerando que a vida humana não se resume a seu estágio embrionário. Na luta em defesa da vida, o problema nunca é pontual. As agressões chegam de vários setores do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e até de acordos internacionais. E chegam em vários níveis: fome, violência, drogas, miséria... São as limitações da democracia representativa. Meu candidato sempre me representa? Definitivamente, não! Às vezes, o candidato é bom, mas seu partido tem um programa que limita sua ação. Por isso, o exercício da cidadania não se pode restringir ao momento do voto. É preciso acompanhar, passo a passo, os candidatos que forem eleitos. A iniciativa da Ficha Limpa mostrou claramente que, mesmo num Congresso com tantas vozes contrárias, a força da união do povo muda o rumo das votações. Que o Senhor da Vida inspire nossos eleitores para que da decisão das urnas nas próximas eleições nasçam governos dignos do cargo que deverão assumir. E que o cerne de toda política pública seja a pessoa humana, sagrada, intocável, desde o momento em que passa a existir, no ventre de sua própria mãe.
DOM DIMAS LARA BARBOSA, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, secretário-geral da CNBB
secretariogeral@cnbb.org.br
Rio de Janeiro
DOM DIMAS LARA BARBOSA, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, secretário-geral da CNBB
secretariogeral@cnbb.org.br
Rio de Janeiro
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